A utilização de tecidos embrionários de vegetais em saúde humana apelidada gemoterapia é a designação de um relativamente recente ramo da fitoterapia, em sentido lato, que utiliza única e exclusivamente as gemas ou rebentos de vegetais. Trata-se pois, diferentemente da fitoterapia em sentido estrito que utiliza vegetais no seu completo estádio de desenvolvimento e quase sempre na forma dessecada, e da aromoterapia que apenas utiliza uma fração complexa do “totum vegetal”, os óleos essenciais, trata-se pois como dizíamos, de um processo que apenas utiliza tecidos vegetais em fase embrionária, de tal forma que alguns, poucos autores a costumam apelidar de fitoembrioterapia, termo que todavia se nos revela algo desadaptado e terminologicamente pouco esclarecedor.
O precursor deste novo ramo de utilização das plantas medicinais, foi o médico belga Pol Henry de Bruxelas, que pela primeira vez, há cerca de 60 anos, teve a ideia de utilizar os rebentos frescos de vegetais em terapêutica humana. Pol Henry baseava a sua metodologia numa analogia bioquímica existente entre a fórmula proteínica sanguínea de animais testados em laboratório e as dos doentes em tratamento.
Esta metodologia foi posteriormente considerada desadaptada de um real contexto científico, tendo um grupo de investigadores franceses, liderados por Max Tetau e Claude Bergeret, passado a utilizar a gemoterapia com base essencialmente em dois preceitos paradigmáticos, a experimentação clínica usada como guia e a experimentação laboratorial e fisiológica usada como regra.
A gemoterapia possui algumas características que a poderão colocar numa posição de certa forma privilegiada em relação, à fitoterapia clássica (fitoterapia em sentido estrito).
- A primeira é o facto de se tratar de um processo mais de acordo com os modernos conceitos da ecologia, na medida em que não obriga a colheita intensa de plantas inteiras, mas apenas prevê a simples recolha de tecidos em crescimento, não se aniquilando o vegetal.
- A segunda tem fundamento naquilo a que Tetau e Bergeret chamam a atividade acrescida da gemoterapia, que parece ficar a dever-se a uma grande concentração de substâncias, particularmente de tipo hormonal, como por exemplo auxinas e giberelinas entre outras nos tecidos embrionários, e que permite o recurso a dosagens baixas relativamente à fitoterapia clássica. Adiantemos ainda que na maioria dos casos a correspondência vegetal-patologia não é coincidente em fitoterapia clássica e gemoterapia.
- A terceira tem que ver com a precisão e especificidade terapêuticas que são apanágio da gemoterapia, o que na maioria dos casos não acontece em fitoterapia clássica, que possui uma atividade fisiológica menos específica sendo pois, mais lata e em principio menos manejável clinicamente, o que contudo em nossa opinião não se deve considerar como uma inferioridade de aplicação e bioterapia, particularmente quando estão em jogo conceitos anatomo-funcionais em fisiopatológicos próprios da metodologia holística inerentes à naturologia que considera o ser humano num plano superior e prioritário em relação à simples sistematização de patologias, que peca quase sempre por dar primazia à generalidade e padronização em detrimento da abordagem casuística. Por isso pessoalmente preferimos considerar a gemoterapia e a fitoterapia clássica como complementares e sinérgicas, e nunca ter pretensões de querer substituir uma pela outra.
A gemoterapia também preenche os requisitos da drenagem, tão importante em naturologia e que constitui um dos seus conceitos paradigmáticos. Este conceito que objetiva o homem na sua totalidade, considera que as doenças de que ele é vítima apenas se desenvolvem num terreno fragilizado em virtude de disfunções ao nível dos órgãos de eliminação, os emunctórios, como consequência da acumulação de substâncias tóxicas, de metabolitos mal degradados, de catabolitos insuficientemente eliminados, além de diminuição das defesas imunitárias. Um dos meios de facilitar o retorno ao estado de saúde consiste em fazer diminuir esta carga toxínica endógena, estimulando em conjunto e certamente os diferentes órgãos de eliminação, sendo esta estratégia naturológica apelidada drenagem, a que os antigos naturopatas ortodoxos do principio do século, como Kneipp, Kuhne, Lezaeta, Capo, Colluci, etc., chamavam empiricamente de depuração sanguínea, e para a qual já possuíam certos métodos e processos, alguns dos quais ainda hoje em vigor, ainda que reformulados por conceitos mais científicos, como é o caso da drenagem trófica, que assenta especialmente na manipulação controlada da nutrição e dietologia. Os produtos gemoterápicos, apesar de agirem com precisão e especificidade têm-se revelado excelentes drenadores dos órgãos que lhes são alvo em termos de atividade fisiológica.
A produção de produtos à base de tecidos embrionários vegetais está largamente disseminada na Bélgica e França. Nestes países o seu processo de produção é resumidamente o seguinte: após a colheita dos rebentos frescos e num prazo máximo de 24 horas esses mesmos rebentos são sujeitos a uma maceração tendo como solventes a água desmineralizada e purificada, o etanol e o glicerol, em partes que variam ligeiramente conforme o material vegetal utilizado, durando esta maceração cerca de 30 dias, devendo proceder-se diariamente durante alguns minutos a um ligeiro processo de agitação da mistura vegetal-solvente. No final do prazo indicado procede-se a filtragem e prensagem com recolha da solução extrativa que se encontra normalmente numa concentração de 1/5. Esta solução extrativa é posteriormente desconcentrada a 1/9, obtendo-se assim o produto final pronto a ser consumido. O controlo de qualidade, além dos indispensáveis recursos à sanidade em termos microbiológicos, faz uso da refractometria, polarimetria e processos vários de cromatografia, podendo ainda usar-se como um meio mais sofisticado a recente olfactometria com aromascan.
Em Portugal e na Biogal, enveredamos por um processo semelhante, mas com significativas alterações em termos de tecnologias utilizadas, em virtude de ser nossa vocação a produção de produtos totalmente isentos de álcool (etanol), o que acontece com os outros extratos de plantas medicinais e aromáticas por nós produzidos para uso em fitoterapia clássica, ou virtualmente isentos de etanol no caso destes produtos. Assim, e particularmente devido à vocação biotecnológica, o nosso processo envolve no primeiro dia de maceração, apenas o recurso à água como único solvente, apoiando-nos todavia em tecnologia de enzimas despolimerizantes das macromoléculas da parede celular vegetal, particularmente hemicelulases e pectinases, sendo o restante prazo de maceração preenchido com utilização de teores bastante inferiores aos convencionais, de glicerol e particularmente de etanol, o que após a desconcentração final origina produtos” virtualmente ” isentos deste álcool ou seja menos de 0,5%. Este processo implica ainda o recurso a técnicas de estabilização e conservação levadas a cabo com uma mistura de substancias sinérgicas de origem biológica, e a utilização de beta-ciodextrina produzida por via biotecnológica e que constitui uma molécula capaz de levar a cabo o encapsulamento molecular de substancias com pouca ou nenhuma afinidade para a água, substâncias essas que se encontram em significativa percentagem nos tecidos embrionários vegetais.
A investigação científica nesta área iniciada de forma sistematizada nos anos 80, orienta-se particularmente em três vetores:
- Análise bioquímica dos tecidos embrionários vegetais utilizados e sua comparação qualitativa e quantitativa em relação ao vegetal adulto;
- Estudo dos efeitos fisiológicos e avaliação da atividade do extrato total de rebentos frescos em relação a um eventual princípio ativo isolado da planta inteira;
- Experimentação clínica, que permite ao terapeuta conhecer precisamente as possibilidades de tratamento utilizando estes produtos e de tomar decisões acerca das principais indicações.
Como exemplo desta investigação científica escolhemos um vegetal que nos é particularmente querido, porque já pessoalmente nos proporcionou resultados surpreendentes, e ainda por ser alvo de cultivo, biológico pela nossa empresa, tendo unicamente em vista a colheita de rebentos frescos. Trata-se do Ribes Nigrum (Groselheira Negra), e do qual resumidamente apresentamos um estudo dos efeitos fisiológicos e fisiopatológicos.
Avaliação da atividade anti-inflamatória de rebentos frescos de Ribes Nigrum.
A reação inflamatória é caracterizada por uma sucessão no tempo de diferentes fenómenos· fisiopatológicos: vasodilatação, aumento da permeabilidade capilar e exsudação plasmática (passagem do plasma e glóbulos brancos do sangue através da parede dos pequenos vasos) conduzindo à formação de edemas,
A atividade anti-inflamatória do Ribes Nigrum rebentos frescos foi testada sobre quatro modelos:
a) O teste da resistência ao frio, que consiste em expor murganhos a uma temperatura de -25°C e de comparar a percentagem média de sobrevivência entre animais tratados por Ribes Nigrum e murganhos testemunho recebendo apenas um simples excipiente.· Os resultados demonstram uma proteção notória dos rebentos, sendo a percentagem média de sobrevivência entre os murganhos testemunha de 27%, contra 78% nos murganhos tratados.
Desta forma Ribes Nigrum pode ser considerado como uma substância com atividade cortisono-similar.
b) Modelo de resistência ao “stress” da fome. Um grupo de murganhos suprarrenaloctomizados é sujeito a uma metodologia alimentar provocadora de fome. A administração de Ribes Nigrum rebentos conduz às seguintes observações experimentais: Aumento do tempo de sobrevivência com menores desequilíbrios da taxa de glicémia, em relação a um grupo testemunho com as suprarrenais intactas. Este modelo reforça a evidência objetiva de ação cortisono-similar do Ribes Nigrum.
c) Modelo das esferas de esponja ou de algodão. Este modelo consiste em introduzir no tecido sub-cutâneo de murganho um corpo estranho, criando assim uma inflamação do tecido conjuntivo. A citologia do líquido inflamatório recolhido do granuloma reactivo, coloca em evidência num lote tratado com Ribes Nigrum rebentos, uma diminuição muito importante de células típicas deste tipo de fenómeno inflamatório, os macrófagos (dez vezes menos que os testemunhos) células estas consideradas como poderosas agentes inflamatórios por possuírem nos seus lisossomas potentes substâncias líticas.
d) Modelo da artrite induzida pelo adjuvante de Freund. Este modelo constitui um tipo particular de inflamação de origem imunológica que é acompanhado de modificações bioquímicas, similares à doença reumatismal.
A dez coelhos foram administrados 1 mI de adjuvante de Freund e 0,1 mI de soro de cavalo. O tratamento com Ribes Nigrum na posologia de 40 gotas por dia em intubação gástrica começou treze dias após a injeção do adjuvante. Dois tipos de proteínas plasmáticas foram doseadas, em virtude de as suas taxas anormalmente elevadas expressarem no coelho o processo inflamatório:
– A alfa 1 glicoproteína ácida.
– As gama-globulinas.
A administração de Ribes Nigrum permitiu reduzir até próximo da normalidade em sete dias a taxa de alfa -1 glicoproteína ácida, e em dez dias a das gama-globulinas.
Estes modelos de avaliação permitem-nos considerar seriamente com fundamentos científicos sólidos o Ribes Nigrum como dotado de propriedades anti-inflamatórias, possuindo para além da sua ação de tipo cortisono-similar (isenta de secundarismos), um possível efeito inibidor sobre o processo inflamatório não só no que respeita à formação. do liquido exsudativo promotor de edemas, mas também em relação ás células mobilisadas e das substancias imunitárias reactivas formadas.
Por isso este tecido embrionário vegetal é usado com sucesso na terapêutica dos síndromas alérgicos, reumatismais, dermatológicos, otorrinolaringológicos e pulmonares, estando particularmente indicado na astenia hiposuprarrenaliana, reumatismos inflamatórios, nas asmas, alergias alimentares e medicamentosas.
A utilização de tecidos embrionários de vegetais (rebentos frescos), afigura-se um excelente recurso a acrescentar aos já existentes no âmbito dos suplementos alimentares, desde que os vegetais usados preenchem os requisitos legais em vigor o que é uma realidade na maior parte dos casos.
LISTAGEM DOS PRINCIPAIS GEMOTERÁPICOS E SUAS APLICAÇÕES
ALNUS GLUTINOSA | Melhora a circulação cerebral e tonifica as paredes das artérias, estando por isso indicada nas sequelas de hemorragias cerebrais e esclorose senil. |
BETULA PUBESCENS | Estimula as defesas orgânicas. Combate a astenia, sendo ainda utilizada em drenagem dermatológica. |
CEDRUS LIBANI | Drenagem em dermatoses, particularmente eczemas e psoríase. |
CORYLUS AVELLANA | Adstringente e vasoconstritor a empregar nas afeções capilares. Também indicada no enfisema e na esclerose pulmonar. |
FICUS CARICA | Possui ação essencialmente diencefálicaque faz dele um remédio de eleição nas afeções psicossomáticas, particularmente ao nível do estômago e duodeno quando existem ulcerações. |
PINUS MONTANA | Reumatismos crónicos, artrose vertebral e coxartrose. |
PRUNUS AMYGDALUS | Diminui a taxa de protrombina. Indicado na hipertensão e arteriosclerose. |
ROSMARINUS OFFICINALIS | Hepatoprotector, colagoso e colerético. |
RUBUS IDEAEUS | Atividade estrógeno-similar, sendo usado em transtornos ginecológicos e na menopausa como preventivo da senescência |
RUBUS FRUCTICOSUS | Osteoporose e outros dismetabolismos ósseos. |
SECALE CEREALE | Estimula a célula hepática. |
Autores > Eduardo Ribeiro, CEO Departamento cientifico | Controle de Qualidade| Investigação e Desenvolvimento– BIOGAL, Biologia de Portugal Lda.
> Virtuosa Pegacho, Investigação e Desenvolvimento - BIOGAL, Biologia de Portugal Lda.